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A história do bonconselhense General Dantas Barreto

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Vindo de uma família pobre de roceiros, em 1850, em Bom Conselho, Estado de Pernambuco, nascia Emidio Dantas Barreto. Por questão de necessidade, ainda menino, juntamente com um irmão, dedicava-se à venda de jóias pelos sertões do Nordeste do Brasil.  

Com quinze anos de idade, Dantas ingressa no Exército brasileiro, seguindo rumo à Guerra do Paraguai pouco tempo depois. Em 1869, com apenas 19 anos, ele já era um ex-combatente, tendo sido promovido a alferes.  

Depois de atravessar as planícies do Rio Grande do Sul e os campos de Itororó, Dantas voltava aos serviços de paz, concluindo, então, os cursos de artilharia, cavalaria e infantaria.

Neste sentido, empreendeu uma carreira militar repleta de louros. No ano de 1879, como alferes, era promovido a tenente; em 1882, por estudos, passava a capitão; em 1890, por merecimento, a major; a tenente-coronel em 1894, por merecimento; em 1897, por bravura, a coronel; em 1906, a general de brigada; e, em 1908, a general de divisão.  

O militar participou, ainda, da Revolta da Armada, tendo sido um combatente ativo da Guerra de Canudos. Nesta última, como comandante do 25º Batalhão de Infantaria e, posteriormente, como comandante da terceira brigada. Dantas se torna, a partir daí, um autor de livros sobre a guerra.  

Para combater Antônio Conselheiro e os seus seguidores, o experiente Dantas incumbia os soldados de revistar a região casa por casa. Vinha em seguida pela retaguarda, em um grande cordão de segurança, com baionetas e um forte fogo cerrado, arrasando 300 das 6.500 residências do arraial, pisando sobre corpos de mulheres e crianças, numa distância de aproximadamente 150m, colocando a bandeira nacional nos escombros das torres que restavam.  

Sobre tal evento, posteriormente, ele escrevia:   deu-se começo ao arrasamento do grande povoado, ainda pelo incêndio e a demolição. Era preciso não deixar uma parede no meio, uma viga sequer, intacta […]. Três dias depois, não se encontrava ali senão os destroços dessa imensa população que desaparecera em nome da ordem, da civilização e da moralidade do Brasil.  

Como comandante, permaneceu na área do início ao fim da guerra de Canudos, tendo participado do derradeiro combate local, no dia 1º de outubro de 1897. Esta representou uma guerra que levou 12.000 homens ao sertão, dentre os quais muitos veteranos da Guerra do Paraguai, da Revolta da Armada e da Revolução Federalista.

Como era de se esperar, além de os combatentes terem dizimado 5.000 adeptos de Antônio Conselheiro, fizeram desaparecer por completo, inclusive, a maior cidade existente na Bahia, depois de sua capital.  

É preciso registrar que, no dia 6 de outubro de 1897, o corpo do Antônio Conselheiro era desenterrado do altar da Igreja da Santíssima Trindade, treze dias depois de haver sido sepultado, cabendo ao Major Miranda Cúrio a decapitação do corpo em decomposição do beato.

A sua cabeça, depois de ter sido acomodada dentro de uma urna com cal, seguia para Salvador, a fim de ser estudada pelos médicos Juliano Moreira e Nina Rodrigues.

Este último, em dezembro de 1897, divulgava o laudo sobre o material recebido, onde comunicava não haver encontrado qualquer anomalia ou degenerescência, e classificando o morto como um indivíduo que possuía um crânio normal.  

Quatro décadas após tal episódio, um processo de decapitação equivalente ao de Conselheiro era empreendido junto a Lampião, Maria Bonita e outros membros do bando de Virgulino Ferreira da Silva, sendo as cabeças mergulhadas em formol e levadas, depois de uma longa peregrinação, para o Museu Nina Rodrigues, em Salvador, um museu assim denominado em homenagem ao falecido célebre médico.  

No dia 15 de novembro de 1910, quando Hermes da Fonseca assumia a Presidência da República, os militares apoiaram Dantas Barreto – na época, o Ministro da Guerra – para concorrer, politicamente, com Rosa e Silva.  

Quando o militar resolveu disputar o Governo de Pernambuco, em 1911, surgia um dos períodos mais agitados da política estadual. Rosa e Silva era apoiado pelas forças políticas e Dantas Barreto pelas tropas do Exército – o 49º Batalhão de Caçadores – sob o comando do General Carlos Pinto. Este último, era o encarregado de enfrentar os combates de ruas, travados entre “rosistas” e “dantistas”.  

No dia 18 de outubro de 1911, em frente a um teatro (o Helvética) existente na rua Imperatriz, ocorria um confronto sangrento entre os populares e a cavalaria do Exército, vindo a falecer o Capitão José de Lemos, comandante da tropa. Esse incidente dava margem a que o Chefe de Polícia suspendesse todos os comícios e passeatas seguintes.  

Depois das eleições, o Diario de Pernambuco anunciava Rosa e Silva como o vencedor, com 21.613 votos, ficando Dantas com 19.585 votos. Mas, os partidários do militar não se conformaram com o resultado das urnas, e o Recife passava a viver uma série de incidentes violentos, que convergiram para a paralisação dos bondes, o fechamento de cinemas e casas comerciais, e o grande temor da população em sair às ruas.  

No dia 12 de novembro de 1911, ocorria um tiroteio na rua da Aurora, nas ruas das Flores, Barão da Vitória e Imperador e na Praça da Independência. Um dos principais alvos desse confronto era, precisamente, a redação do jornal Diario de Pernambuco, uma empresa de propriedade de Rosa e Silva.

Posteriormente, houve um incidente ainda mais grave: com o apoio das tropas do Exército, os grupos populares atacaram os quartéis da Polícia. O Palácio do Governo também era atacado e os tiros, partindo do Cais do Apolo e do Forte do Brum, quase matavam Estácio Coimbra – na época, o Governador de Pernambuco e uma pessoa de total confiança de Rosa e Silva.

Um dos tiros perfurara, inclusive, o gabinete de Estácio, indo alojar-se em uma parede a um palmo de sua cabeça. O Governador, após o incidente, passava a despachar na própria Chefatura de Polícia.  

Depois do dia 24 de novembro, a polícia voltava a revistar os transeuntes que circulavam pelas ruas; os trens da Great Western foram paralisados (com pedidos de garantias à Guarnição para as estações do Brum, Cinco Pontas e Central); as escolas de Direito e de Engenharia suspendiam as provas; ocorria um tiroteio contra o Ginásio Pernambucano, enfim, a cidade tornava a passar por horas de muita angústia.  

Do Rio de Janeiro, nessa época, José Mariano, já doente, enviava o seguinte telegrama que o jornal A Província vinha a divulgar:   Impossibilitado fisicamente de achar-me ao lado do povo pernambucano no dia da reconquista de sua liberdade, tenho esperança de que êle sacudirá o domínio ignominioso da oligarquia que nos avilta e me dará a consolação, se estiver terminada minha carreira política, de deixar livre a terra que tanto tenho amado.

O Povo não precisará que eu o estimule, porque tem a consciência da responsabilidade que lhe cabe no atual momento histórico de nossas reivindicações.   Os incidentes locais se tornavam notícia internacional, ainda, em jornais de Lisboa – como O Século e A Ilustração Portuguesa – e de Paris – o Le Matin.

Somente quando Estácio Coimbra solicitou uma intervenção federal para o Recife, é que a situação se normalizava, e o Congresso era convocado, então, para reconhecer o candidato eleito.   Dessa vez, no entanto, o General Dantas Barreto era apontado como o legítimo Governador do Estado, tendo vencido Rosa e Silva por uma diferença de 1.164 votos.

Isto selou o desfecho do predomínio do rosismo, uma forte oligarquia que permanecera no poder de 1896 a 1911, e que, através das alianças, dominara a polícia, o Tesouro, o fisco. Dantas era recebido de maneira apoteótica pela população que cantava o seguinte coco:   O pau rolou, caiu.   Rosa murchou, Dantas subiu.  

Como governador de Pernambuco, uma de suas inúmeras ações, foi a de decretar a mobilização da polícia, a fim de conter os imensos prejuízos causados pelos bandoleiros que se engajavam no cangaço. Neste sentido, despachava para o interior inúmeras forças volantes, com o intuito de combater Antônio Silvino e o seu bando.  

Além de uma vertiginosa carreira militar e política, Dantas Barreto também redigiu diversas obras científicas, estudos militares e romances históricos. Ele representou, ainda, o primeiro autor a escrever uma obra sobre Canudos, além de ser o que mais deixou informações acerca das campanhas militares.  

Dentre os seus trabalhos, destacam-se A condessa Hermínia (1883), Margarida nobre (1886), Última expedição a Canudos (1898), Impressões militares (1909), Destruição de Canudos (1912) e Acidentes da guerra (1914).   Por conta de sua valiosa produção literária, o escritor Dantas Barreto era eleito, em 1911, membro da Academia Brasileira de Letras, vindo a ocupar a cadeira que pertencera a Joaquim Nabuco.  

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O general Emidio Dantas Barreto vem a falecer no dia 1º de outubro de 1931. Em sua homenagem, a Prefeitura deu o nome do militar e político pernambucano a uma das principais avenidas do centro do Recife.

Essa enorme avenida se estende da Praça da República até a Praça Sérgio Loreto (o antigo viveiro do Muniz), no bairro de Afogados.  Aproximadamente no meio da grande artéria, em frente à basílica do Carmo, observa-se o busto do general que governou o Estado de Pernambuco e as placas sobre a inauguração da avenida.  

Fontes consultadas:

MELLO, Frederico Pernambucano de. Que foi a guerra total de Canudos? Recife; Zurich: Stahli, 1997.

PORTO, Costa. Os tempos da República Velha.

Recife: FUNDARPE, 1986.

RIBEIRO, José Adalberto. Agamenon Magalhães: uma estrela na testa e um mandacaru no coração.

Recife: Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco, 2001.

Semira Adler Vainsencher [email protected] Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco http://semiraadlervainsencher.blogspot.com/

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