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A Percepção da injustiça – Por: Carlos Eduardo Meirelles

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Justiça é um dos valores mais antigos que a humanidade aprendeu a conhecer. Está na origem dos povos e no despertar da vida social. Está na origem das cidades – como notou Platão – como também na base da amizade ou da ordem política, como diz Aristóteles. Ainda jovens, os seres humanos despertam para a intenção de combater as injustiças ou ver reparado algum ato injusto.
Portanto, a percepção da injustiça é tão antiga na vida de cada ser humano como também na vida dos povos. Entre os gregos, a percepção da injustiça gerou a guerra de Tróia, como também o nascimento da civilização grega e ainda os poemas de Homero. Entre os judeus, a consciência da injustiça acompanha toda sua história e dá origem à sua unidade como povo.
São inúmeras as passagens bíblicas nas quais a injustiça é o valor que move os fatos. A percepção da injustiça nasce na consciência de Caim diante da pergunta a respeito de onde estava seu irmão e a consciência da justiça dá a Davi a vitória sobre Golias. Saber aplicar a justiça fez de Salomão um rei sábio. E foi também o modo tardio de percepção da injustiça que tornou memoráveis na história humana grandes vítimas de injustiças como Sócrates, Jesus, Joana D’Arc e inúmeros outros grandes injustiçados que ficaram sendo lembrados e celebrados ao longo dos séculos.
Em geral, a punição aos que praticam atos injustos se torna mais injusta do que o próprio ato injusto cometido. Quando a reparação da injustiça se converte em vingança, converte-se em um ato desproporcionalmente agressivo exatamente porque a revolta provocada pela injustiça tende a assumir dimensões ilimitadas. Em certos povos árabes, cortar a mão de quem praticou um furto já parece uma punição desproporcional a povos nos quais a chamada “pena de Talião” foi suprimida.
E só foi suprimida quando a humanidade tomou consciência do caráter desproporcional desta maneira de punição. A mais branda punição que pode ser destinada a um ato injusto é a indiferença e o desprezo ao seu autor. No entanto, esta reprovação ao injusto geralmente confunde o autor com seu ato, porque a injustiça envolve o autor em uma auréola negativa que o torna uma presença incômoda entre os que conhecem seu ato.
Ao ser humano, é intolerável conviver com o injusto, por mais que este insista em buscar o perdão entre aqueles com quem convive. Na história humana, injustiças foram praticadas em incontáveis fatos históricos, do mesmo modo que todo ser humano certamente sabe que já praticou alguma injustiça. Ocorre que a prática da injustiça – como se dá com qualquer valor negativo – produz um sentimento negativo tanto em quem o percebe como também em quem o pratica. Para que este sentimento negativo possa exercer tal efeito, tudo depende de ser percebido e de como tenha sido percebido.
Toda vez que um ato injusto é praticado, alguma reação de repulsa ou reprovação ocorre em quem o presencia. No entanto, é muito difícil, a quem o pratica notar desde logo que seu ato foi injusto. Do ponto de vista do autor, o ato injusto se apresenta como justo, do mesmo modo que o assassino julga ter sido “justo” com sua vítima ou ter sido vítima da vítima.
Portanto, a questão da injustiça envolve necessariamente sua percepção. Mas, de que modo se dá a percepção da injustiça? Esta questão está relacionada com um problema maior: a percepção de valores. Estes, por sua polaridade intrínseca, assumem caráter real por qualquer de seus polos – tanto pelo polo positivo como pelo polo negativo.
No caso da justiça, é indispensável lembrar o papel da injustiça como elemento fundamental no processo perceptivo. Certamente só se pode falar em injustiça, desde que algum ato injusto ou alguma situação injusta possa ser percebida. No entanto, a percepção da injustiça difere muito de um indivíduo para outro, o que torna sempre muito difícil, entre seres humanos, distinguir um ato injusto do que possa haver de justo naquilo que tenha sido praticado.
Neste ponto, é oportuno lembrar as palavras que Platão atribui a Glauco, ao reconstituir os argumentos de Trasímaco: “dizem que cometer uma injustiça é um bem e que sofrê-la, um mal […] já que o maior bem é praticar uma injustiça sem ser punido e que o maior mal é sofrer uma injustiça sem poder revidá-la”.
Portanto, a questão que Platão coloca é o modo pelo qual se dá a percepção da injustiça. Mostra ele que, quando se trata de apontar injustiças, cada um a percebe dentro do âmbito de seu interesse individual. Mais ainda: dentro de uma perspectiva puramente individual, a injustiça seria sempre diferente de um indivíduo para outro, por ser relativa ao âmbito da percepção individual.
Para cada indivíduo, injusto é tudo que se opõe aos seus interesses por ser algo que se limita ao âmbito de sua subjetividade. Por isso, indivíduos diferentes percebem o justo e o injusto de modo diferente. Sempre haverá divergências entre indivíduos, quando se tratar de distinguir o justo do injusto e sempre será necessário que, pelo uso do poder – ou seja, pela força – se estabeleça a diferença entre o justo e o injusto. Neste caso, a posição de Trasímaco se reproduz na posição legalista de quem diz que injusto é apenas aquilo que já tenha sido previamente definido pela lei. Neste caso, bastaria cumprir a lei declarada pela autoridade constituída, para ser justo. E, como a lei sempre é definida por quem tem o poder para tal, será então necessário admitir que Trasímaco estava certo: justo é aquilo que corresponde ao interesse de quem tem o poder de defini-lo – ou seja, aquilo que corresponde ao interesse do mais forte.
Esta foi a dificuldade com que Platão se deparou. Nota ele que sendo sempre diferentes, entre si, os seres humanos sempre têm dificuldade de distinguir – ao mesmo tempo – o justo do injusto. Para cada um, justo será sempre aquilo que corresponde ao que lhe convêm ou, pelo menos, ao que esteja ao alcance de sua percepção. Com isso, justo será sempre atender ao que falta a cada um.

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