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SAÚDE

Há 100 anos, gripe matava mais de 30 milhões

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Em um mundo ainda cambaleante por causa dos estragos provocados pela Primeira Guerra Mundial, um agente ainda mais devastador do que as bombas e armas dos campos de batalha matou pelo menos 30 milhões de pessoas ao redor do planeta no segundo semestre de 1918: a gripe espanhola.

Considerada a maior pandemia da história da humanidade, a “influenza espanhola” completa um século com duas importantes lições: não se pode baixar a guarda quando o assunto é saúde pública e a prevenção ainda é o melhor remédio para o controle de surtos, epidemias e pandemias.

“Hoje em dia nós temos antibióticos e vacinas para problemas como a febre amarela, mas veja como está a situação no país em relação à doença. É essencial aumentar a vigilância preventiva, para evitar novas epidemias e pandemias, aqui e no mundo”, diz a infectologista Nancy Bellei, professora da Unifesp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Cem anos depois da gripe espanhola, não se sabe ao certo como tudo começou e tampouco como acabou. Muitos acreditam que o vírus tenha surgido na América do Norte e levado para a Europa com as tropas que foram lutar na guerra.

Estudos recentes apontam que, na verdade, o vírus pode ter se desenvolvido um ano antes, na China, durante um surto de influenza no país, e foi transportado por trabalhadores chineses que foram suprir a falta de mão de obra nos EUA, em decorrência do conflito mundial. A partir daí, seguiu o caminho rumo ao continente europeu.

O certo é que, entre setembro e dezembro de 1918, considerado o pico da pandemia, dezenas de milhões de pessoas morreram em todas as partes do planeta, principalmente na Europa, castigada pelas precárias condições sanitárias, infraestrutura urbana comprometida por causa da guerra, a fome e o frio do outono. Era uma combinação explosiva que ajudava a disseminar o vírus rapidamente. As estatísticas mais conservadoras falam em 40 milhões, mas o total de óbitos pode ter chegado a 100 milhões.

“As comunicações e as informações eram muito difíceis e precárias na época. Em regiões remotas, como o interior da África, muitos casos nem eram notificados”, diz o médico infectologista Celso Granato, professor da Unifesp.

Ele explica que a enfermidade começava como gripe comum, mas, por causa de uma característica específica do vírus influenza, as células das partes mais baixas do organismo, como os pulmões, eram atacadas e a doença evoluía para um quadro grave de pneumonia bacteriana, matando a pessoa em poucos dias ou mesmo horas.

“Hoje poderíamos tratar essa fase mais crítica internando o paciente em unidade de terapia intensiva e ministrando antibióticos. Mas naquela época não havia nada disso”, diz Granato. O vírus da influenza de 1918 só conseguiu ser isolado pelos cientistas em 1933.

O resultado foi devastador. O nome se deve ao fato de a Espanha, neutra na Primeira Guerra e com pouca censura à imprensa, ter notificado seus casos de forma transparente, diferentemente de outros países. Com o movimento de tropas militares e população civil pela Europa e o regresso de soldados para casa após o conflito, a gripe espanhola se espalhou pelos países e continentes. No Alaska, comunidades inteiras de esquimós foram dizimadas. No Reino Unido, houve pelo menos 200 mil mortes e, nos EUAs, um quarto da população americana – cerca de 25 milhões de pessoas – caiu enferma, das quais morreram em torno de 500 mil.

No Brasil, a doença chegou em setembro de 1918 com o navio inglês Demerara, vindo da Europa e que deixou passageiros contaminados no Recife, Salvador e Rio. Em poucas semanas, as contaminações e as mortes se multiplicaram por diversos Estados. De acordo com a Cruz Vermelha, cerca de 35 mil pessoas morreram no país por causa da doença. Apenas no Rio, o número de óbitos chegou a 14 mil. Em São Paulo ocorreram duas mil mortes entre outubro e dezembro de 1918.

Nas cidades, o pânico se espalhou com o vírus. Entidades como a Cruz Vermelha ajudaram o poder público no atendimento aos enfermos. “Não havia hospital, posto de saúde e, o pior, pessoas para ajudar, fazer caixões e enterrar os mortos. Estavam todos doentes”, diz a coordenadora de educação e saúde da Cruz Vermelha no Brasil, Rozana Ribeiro. A escola de enfermagem mantida pela entidade no Rio foi transformada em hospital para atender os doentes que se multiplicavam.

O remédio mais comum era o quinino, utilizado no tratamento da malária e que tinha pouca ou nenhuma eficácia no tratamento da gripe. Analgésicos como a aspirina pioravam ainda mais, pois provocavam hemorragias. Não faltaram receitas caseiras para tentar conter o avanço da pandemia, como pitadas de tabaco e queima de alfazema e incenso para desinfetar o ar.

Mortos eram transportados em bondes especiais e, com o rápido aumento de óbitos e a falta de caixões, transporte e coveiros, começaram a ser deixados pelos parentes na porta de casa para que fossem transportados e evitar o contágio. O comércio fechou as portas e as ruas ficaram vazias. A situação só não foi pior, segundo Granato, porque o Brasil era um país com grande parte da população na zona rural.

O presidente Venceslau Brás escalou o sanitarista Carlos Chagas para assumir o Instituto Oswaldo Cruz e liderar uma ampla campanha para combater a gripe espanhola, instalando hospitais emergenciais e postos de atendimento espalhados pelo Rio. Entre as vítimas fatais ilustres, estava o presidente da República reeleito Rodrigues Alves, que assumiria o país em 1919 e representava uma grande esperança para a nação, já que tinha vencido a epidemia de febre amarela no Rio durante o seu primeiro mandato.

Assim como veio, a gripe espanhola foi embora. Nos primeiros meses de 1919 a pandemia já tinha arrefecido e aos poucos a vida foi voltando ao normal no Brasil e no mundo.

“Em geral, o ciclo da influenza começa a perder a força sobre a população entre seis e oito semanas”, afirma Nancy Bellei. Para ela, o episódio de 1918 deixou lições para as gerações futuras, como o atual surto de febre amarela no Brasil. “A vigilância epidemiológica preventiva é fundamental. Quando se percebe que algo diferente está acontecendo em determinado local, é preciso agir rapidamente”, diz a professora.

Fonte: Valor Econômico
Data: 16/02/2018

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