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Há cem anos nascia o irreverente Chacrinha

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*Por Lucas  Soares

Um revolucionário por essência; um comunicólogo por natureza. Importante personagem da história da TV brasileira, o Velho Guerreiro completaria cem anos se estivesse vivo. Abelardo Barbosa – para os íntimos – foi o responsável por inaugurar uma nova estética na televisão e deixou um legado que se estende à promoção da música e da cultura nacionais.
José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha, costumava dizer que ‘na TV nada se cria, tudo se copia’. Ninguém até hoje ousou duvidar da sentença. Mas, por ironia, ele, o Velho Guerreiro, poderia ser considerado exceção à regra. Não porque não tenha copiado, mas porque foi além e também criou: foi o fundador de uma nova estética, de um novo tempo na televisão brasileira.
Trouxe da experiência do rádio aquilo que sabia e levou à tela um retrato do Brasil. Não à toa, ganhou o título de tropicalista. Nos palcos do extinto Teatro Fênix, no Rio de Janeiro, o popular e o erudito tinham o mesmo valor. Se confundiam em meio à irreverência de um senhor fantasiado de palhaço, com uma buzina à tiracolo e um par de bordões.
Para o ex-diretor geral da Rede Globo, José Bonifácio Sobrinho, o Boni, o segredo de Chacrinha estava na sensibilidade dele.
‘Ele era capaz de captar todas as emoções das pessoas mais simples. Era um exótico que entendia o simples. Isso é um segredo bastante intenso da vida do Chacrinha. Ele é inesquecível porque tinha sensibilidade para entender as pessoas e tinha sentimento criativo capaz de fazer algo tão diferente, como ele fez’, afirmou.
Nascido em Surubim, agreste pernambucano, o jovem Abelardo quase se formou médico. Os rumos da vida, no entanto, o levaram à então capital federal. Aí, começou no rádio, na era de ouro do veículo.
Não tinha uma voz exemplar. Mas o tanto que lhe faltava em dicção, sobrava em criatividade e empatia. Não demorou muito para a TV reconhecer o talento. No novo ambiente, não deixou de fazer rádio e acrescentou uma pitada de teatro e de circo. Estava pronta a fórmula de sucesso que o imortalizava pelos famosos programas: o ‘Cassino’, a ‘Discoteca’ e a ‘Buzina’ do Chacrinha.
Dando vida ao Velho Guerreiro nos palcos do teatro, o ator Stepan Nercessian destaca que Chacrinha não contava com muitos fatores a favor dele. Ainda assim, nada disso o impediu chegar aonde chegou.
‘Ele tinha tudo para não dar certo. Ele não era considerado bonito. A voz dele era horrível para ser locutor de rádio Ele tinha desvio de septo que deixava a voz de taquara rachada, tinha o sotaque de pernambucano. Eu tenho sempre essa referência desse Abelardo brasileiro.  Era uma época em que o Brasil era feliz e sabia’, disse.
Se não há dúvidas do papel de Chacrinha para a história da TV, incontestável também é a sua relevância para a música nacional nas décadas de 1970 e 1980. O que era sucesso na boca do povo também era sucesso nos seus estúdios. E vice-versa. Do brega ao rock nacional, do romântico ao axé music, tudo era permitido no cassino dele.
Tinha espaço para os veteranos, mas tinha lugar também para os calouros e seus jurados: um capítulo à parte na história do comunicador tamanha a relevância desse quadro para a memória afetiva dos telespectadores.
Do time dos veteranos, o cantor Byafra lembra com saudade das dezenas de participações que teve no programa de Chacrinha, inclusive das vezes que foi literalmente jogado ao público – para o delírio das fãs. Para ele, jamais vai existir um apresentador com o mesmo porte do Velho Guerreiro.
‘Não vai existir outro Chacrinha. Vão existir outros apresentadores bons, como já existem, mas são outros. Igual o Chacrinha? Querer, no bom sentido, aquele absurdo, aquele monte de coisas acontecendo e todas as coisas anormais se transformando em coisas normais?’, questionou.
Chacrinha era um promotor de concursos por natureza. Daí, a veia publicitária. Promoveu um campeonato de deixar qualquer integrante da Vigilância Sanitária de cabelos em pé: o de cachorro com mais pulgas no Brasil. A infestação no estúdio foi suficiente para que o jornalista Roberto Marinho evitasse o local por quase duas semanas.
Nos bastidores, o espírito cômico dava lugar ao rigor. Nada passava pelo olhar atento do maestro do show. De um fio solto no palco ao buraco na meia de uma chacrete – suas famosas bailarinas. É o que lembra uma delas, a eterna Índia Potira.
‘Tinha que ter disciplina. Ele era muito rígido. Mas ele era uma pessoa especial. Esquecê-lo, impossível. Saudades dele? Muita’, revelou.
Apesar do rigor, Abelardo Barbosa sabia ser amável – e bom anfitrião: é o que revela a cantora Wanderléa, nora do apresentador por quase dez anos. O primeiro encontro foi ainda na época do programa de rádio.
Tímida, a jovem Wanderléa evitava o olhar do locutor. Inconscientemente, acabou mirando no relógio que Chacrinha levava no pulso. Questionada por ele se havia gostado do modelo, disse que sim, e acabou sendo presenteada com a peça: uma tentativa de quebrar o gelo.
Sequer passava pela cabeça da cantora que anos mais tarde se sentaria à mesa do almoço de domingo junto com ele e seria ouvinte dos tantos causos que ele gostava de contar.
‘A minha primeira lembrança do Chacrinha foi quando eu comecei minha carreira. Eu ainda muito sem jeito, ele acompanhou a minha cabeça e achou que eu estava olhando para o relógio dele. Ele perguntou: ‘achou bonito?’ Eu disse ‘é muito lindo’. Ele tirou do pulso e me deu’, lembrou.

Chacrinha gravou seu último programa em junho de 1988. Vítima de um câncer de pulmão, deixou de alegrar as tardes de sábado da TV brasileira aos 70 anos.

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